A Nova ´Revolução Brasileira´: o maoísmo para enfrentar a ditadura militar no Brasil dos anos 1960 e 1970
Num mundo em que a Ásia está retomando seu lugar histórico, depois de dois séculos de dominação européia e norte-americana - o que Kishore Mahbubani chamou de “aberração”- o legado de tradições oriundas deste continente na vida intelectual e política da América Latina deixa aparecer relevos discretos. Assim, o maoismo informou várias correntes políticas e gerações de militantes brasileiros, a exemplo do PCB ou da AP e do PCdoB. Além das questões de definição, a atração pelo pensamento dos comunistas chineses, vitoriosos contra todas as expectativas, abriu perspectivas para conceber a revolução no Brasil de forma mais coerente com sua originaldade histórica, complexidade geográfica e o nível de desenvolvimento. Pontos, outrora considerados empecilhos, apresentavam-se doravante como portadores de esperança: a predominância rural da economia, e particularmente as singelas lutas do campesinato, seja no NE com as Ligas Camponesas, seja em Maringa (PR) com sindicatos, etc. Exemplos no continente confortavam esta aposta. Dez anos depois da proclamação da RPC, em Cuba vingava um movimento revolucionário também oriundo do campo. O lema segundo o qual “o campo circunda a cidade”, retomado com ênfase nos anos 1960, parecia se ilustrar aqui também como, em outra escala, nas lutas de libertação nacional no Viet Nam, na Ásia, na África e na América Latina (Naxalitas, MPLA, Sendero luminoso etc.). Para a juventude militante brasileira, sufocada pela repressão da ditadura militar desde 1964, particularmente com o AI 5 em 1968, o maoismo oferecia um horizonte renovado. Além da mudança de modelo, vertentes se abriam do lado das artes, de correntes desafiadoras como o feminismo etc., o Pequeno Livro Vermelho (mesmo clandestino) sendo um incentivo à luta e um elo de solidariedade com outros militantes no mundo.
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